Há algum tempo me faço esta pergunta com certa frequência: e se dinheiro não fosse problema, o que eu faria? Gosto de perceber que existe uma motivação verdadeira que vai bem além do dinheiro quando tomo minhas decisões. Claro que você pode escolher me ver como inconsequente e desapegada – já que eu larguei tudo para viajar por dois meses, mas passei um ano fora – e pensar que para mim é fácil tomar decisões sem pensar em grana. Confesso que hoje em dia é sim muito mais fácil. Mas nem sempre foi assim! Como eu já comentei (aqui), segurança sempre foi um valor importantíssimo para mim. Nunca tinha medo de mudar, mas sempre fazia uma análise bem criteriosa dos riscos de cada passo que eu dava, levando em conta sobretudo segurança e dinheiro. Ainda hoje sei – dinheiro de fato é importante. Mas até que ponto?

Você já pensou no que você faria se dinheiro não fosse o problema? Não pensando que se tem todo o dinheiro do mundo para viver torrando inconsequentemente. Mas simplesmente: e se o dinheiro não existisse, como você viveria? Não é estranho pensar assim já que quase tudo que fazemos e decidimos gira em torno do dinheiro – mesmo quando a gente não se dá conta? Pense em quando escolheu sua profissão – mesmo que tenha optado por ser um artista ao invés de médico, você parou no mínimo alguns minutos para pensar em como esta escolha poderia influenciar a questão grana na sua vida (e se não o fez, seus pais, amigos ou professores provavelmente o fizeram). Ou ainda entre realizar o sonho de conhecer Machu Picchu ou o Sri-Lanka (estes são meus, mas deve ter algum lugar que deseje ir) ou investir num curso que você nem acha legal (ou sabia que existia) mas que tem ouvido dizer que vai precisar para “alavancar” a carreira?

A relação com o dinheiro é parte de nós desde que somos crianças, mas isso nem sempre existiu. Você já se deu conta de que dinheiro é mais uma das muitas “invenções” do homem? Não estou sugerindo com isso voltarmos ao escambo, nem dizendo que dinheiro é o mal da humanidade (embora às vezes pense exatamente isso). O que eu estou propondo aqui é apenas uma reflexão sobre o quanto deixamos a necessidade de dinheiro para viver direcionar nossas escolhas. Se você é uma pessoa parecida comigo (sobretudo como eu era!), talvez seu queixo caia se você fizer uma análise bem sincera.

Tomar a decisão de largar tudo e fazer um período sabático foi difícil. Foi MUITO difícil. E ela só aconteceu de fato porque eu me sentia segura o suficiente em minha profissão e com minha conta bancária. Um dia eu quis fazer um sabático. Depois de anos de muito trabalho, eu sabia que poderia parar por 2 ou 3 meses, voltar e ainda estar “quase” nas mesmas condições de antes – profissional e financeiramente falando. Eu fui mas não voltei em 3 meses – e muita coisa mudou. Mas o ponto é: não é incrível que para tomar uma decisão totalmente ligada ao desejo de buscar respostas que nada tinham a ver com dinheiro, ele ainda sim tenha sido um fator determinante para minha decisão? Se você não acha isso incrível, tente olhar para a vida, estes 70 ou com sorte 90 e poucos anos que temos aqui, com um olhar mais amplo. Esqueça seu emprego, sua família, posses, dívidas, amigos e até sua própria identidade se conseguir. E veja que você é apenas e tão apenas mais um ser (afortunado!) que tem, possivelmente, umas poucas dezenas de anos para usufruir disso tudo aqui: respirar, crescer, ter contato com a natureza interior e exterior, entender quem você realmente é… Afinal, pra que você existe?

Se você conseguiu pensar nisso tudo por um minuto que seja (afinal pensar nisso é desagradável, sei bem!), e voltar a pensar agora em dinheiro, talvez você também veja que dinheiro é só mais uma das coisas que temos que lidar no mundo de hoje – mas que a vida é muito, infinitamente maior! Então. De novo. Será que vale a pena deixar o dinheiro entrar tão fundo em nossas decisões? Será que vale a pena levar anos fazendo algo que não nos dá sentido algum só porque nos paga bem? Será que vale a pena postergar a realização de um sonho, que talvez não seja financeiramente interessante mas que preencheria sua vida, para não gastar? Será que vale a pena ocupar todas as horas do dia ralando para juntar dinheiro e deixar as pessoas que ama apenas para finais de semana tediosos em frente à TV? Claro que ninguém vai largar um emprego mesmo que ruim se for para passar fome – e infelizmente muita, muita gente ganha para (mal) sobreviver! Mas eu estava aqui falando com você que, além de ter a alegria de simplesmente estar vivo, possui uma saúde financeira invejável, e tem a coragem de viver amargando o horário comercial, entupindo os armários de futilidades e ainda sim, de vez em quando, de dizer que a vida é uma merda. Só consigo pensar em duas coisas para dizer: sinto-muito. 

Sinto muito porque quando o dinheiro define nossos passos nos tornamos pessoas miseráveis, silenciando sonhos e mais sonhos com decisões que nos levam a juntar mais dinheiro. Sim, nunca tive muito mas eu sei o que é se tornar este tipo de miserável. E sim também, dinheiro é importante mas… quanto é mesmo que você precisa ter para ser feliz?

 

Trilha sonora – Counting Stars por OneRepublic (mesmo que você não curta o estilo a letra é legal, confia 🙂 )

 

Publicado por maria cardoso

adorogente.wordpress.com

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8 comentários

  1. Resumindo tantas coisas que eu poderia escrever: Simplesmente fez sentido. Pelo menos, para hoje, algo mudou em mim!
    Que este texto possa tocar outras pessoas que precisam de palavras que tragam sentido. 😉

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  2. Parabéns pelo texto amiga… Na minha opinião um dos melhores textos, não sei se foi porq me identifiquei muito ou porque consegui visualizar muitas pessoas que se enquadram perfeitamente neste contexto de preocupação com dinheiro! Simplesmente PERFEITO! Muito orgulho de vc! 😉

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  3. Maria Cardoso, adorei seu texto que achei provavelmente por um acaso da vida. Encontrei-o fazendo a seguinte busca no Google “Como seria sua vida, se tempo e dinheiro não fosse problema?” e seu blog apareceu em primeiro lugar. Você é uma pessoa privilegiada, já pensou na quantidade de pessoas no mundo que não têm a visão de que seguem aquele trecho da música…”Apenas estou fazendo o que me mandaram”? Rs, isso é surreal, as pessoas estudam, trabalham e morrem pelo dinheiro, transformando ele na razão de tudo em suas vidas! Não têm noção de que o dinheiro é somente uma recompensa pelo seus esforços, antes dele devem vir sua família, seus valores, sua liberdade e suas atitudes. Gostaria muito conhecê-la e saber mais de suas ideologias que podem vir a nos ajudar! Desejo uma ótima semana pra você!

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    1. Rodrigo, obrigada pelas palavras! Significa muito para mim saber que há pessoas que gostam dos meus textos e, sobretudo, que pensam de forma parecida comigo. Às vezes este “caminho” é meio solitário e ler seu comentário foi um conforto. Podemos trocar uma ideia sim, me manda um email pelo link do contato ou uma mensagem pela página do FB e a gente “se acha” 🙂
      Bom final de semana!

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